Essa noite lembrei de você. Não conseguia dormir e lembrei das tantas outras noites tão parecidas com essa em que você, paciente, com essa sua mania, nada saudável, de atravessar madrugadas, atravessava também as minhas, do outro lado da linha. Olha que curioso, com você minhas ligações não tinham aquele silêncio incomodo de uma menina que não gosta de falar ao telefone. Não mesmo. Eu tentava rir baixinho pra não acordar o resto da casa, que diferente de mim, não tem insônia. Eu também tinha que contar histórias sem sentido, cantar mesmo sem saber e desejar “boa noite, quase de manhã.”
O tempo com você foi tão pouco, alguns dias roubados de um janeiro que começou sombrio. Aí apareceu você e me fez feliz. Eu que me sentia tão sozinha antes, era só sorrisos com você. Então o coração quis pagar pra ver, mas não podia. E deu trabalho explicar isso pra ele, viu? Se era você quem me cuidava, ignorando o meu mal humor e me fazendo carinho quando eu não estava bem. Se era você quem me mandava músicas. Se era você quem me procurava e queria saber como foi o meu dia. Se era você quem queria me ver, se era você quem zelava meu sono, ria do meu jeito de falar e me dizia como eu estava bonita. Se você não era o outro, que nada disso fazia mais. Que bem não fazia mais.
Foi assim, um nós dois rápido, sem beijos e sem abraços. Um gostar que começou, mas não teve tempo pra terminar. Acho que era pra ser assim mesmo, porque aí você ficou só como saudade e coisa boa. Eu não saberia me apaixonar por você, no fim das contas, por mais que eu quisesse tentar. Mas essa noite lembrei de você.. E senti saudade.
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